segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"Defecacionismo ambulante" x Fazer a Coisa Certa

Considerações prévias:
Aprendi desde precoce idade, ou para aqueles que se prendem a datas, no século passado (argh), que a expressão escrita deve seguir as normas cultas de linguagem.
Portanto, cunhei (vou me permitir esse crédito, já que não vi essa expressão utilizada até então) o termo "defecacionismo ambulante" para substituir a
expressão popular de uso oral coloquial muito frequente (que, admito, a perda do trema ainda me soa como uma castração)

Esses dias descobri que em alguns lugares a prática do "defecacionismo ambulante" é bem recompensada.
Isso me fez pensar em como fica a moral (no sentido de ter fibra) do cidadão, do trabalhador, do servidor, do brasileiro, enfim do ser humano, que se esforça, algumas vezes tendo que remar contra a maré, para se manter fiel aos seus princípios e continuar fazendo o que deve/precisa ser feito.
Isso me remete à hipocrisia nossa de cada dia e de como ela é alimentada por esse tipo de equação.
Faz-me pensar no tipo de pessoa que faz um retorno proibido (pondo a vida de terceiros em risco; a dele, vamos combinar, se nem ele liga...) para economizar a gasolina que seria necessária para rolar mais alguns metros até o retorno para ir à padaria, que fica a duas quadras de casa!
Remete-me ao tipo de pessoa que reclama indignada do deputado que tem um castelo (pra lá de cafona) de 32 cômodos, mas que todo ano enche o saco dos amigos "doutores" (nessa eu me incluo) querendo um recibo "refrigerado" para incrementar os descontos na declaração do imposto de renda.
Poderia citar outros tantos comportamentos do tipo, mas quem sou eu pra ficar colocando o dedo na cara dos outros? Também tenho cara. Não sou perfeita e nem pretendo ser juiz de ninguém.
A questão é que procuro insistentemente me manter afastada desse tipo de hipócrita profissional cristalizada e praticada "naturalmente". Por isso não consigo praticar o "defecacionismo ambulante" profissionalmente, como se vê muito por aí. E por isso me incomoda vê-lo sendo tolerado, ignorado e algumas vezes até recompensado.

Numa cultura onde Fazer a Coisa Certa é cada vez menos valorizado - quem "tira vantagem" é esperto, quem age na legalidade é chato, ingênuo ou mesmo idiota - as pessoas que precisam estar com a consciência em paz na hora de colocar a cabecinha no travesseiro são obrigadas a conviver com o incômodo. O incômodo de algumas vezes cair na tentação de recorrer a uma "solução fácil", o de observar que cada vez mais pessoas caem nessa tentação, o de ver a honradez perdendo espaço para a hipocrisia...

Mas nem tudo está perdido pois, como dizemos nós PSI's, o incomodo é a mola da mudança. Então...

Póin, póin ;-)

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